Sócrates e realmente justo?
Author
Gomes de Pina, María da Gracia
Abstract
Cada ato da fala é urna provocagäo. Urna provocalo naoentendida como insulto, mas como incitamento aodiálogo ou, por vezes, à auséncia dele, acabando entáo porse tomar um insulto. Quando pronunciamos palavras, com a in tensode comunicar algo, por mais banal que este algo seja, o conteúdo donosso discurso veicula o nosso estado de espirito, trai as nossas expetativasou mascara as nossas afedes. Militas vezes somos, por isso, acusados denáo ter entendido real e corretamente o que nos era pedido, de nao terrespondido com ed u ca lo ao que o interlocutor nos dizia, em suma,de sermos injustos. Esta intermitencia na comunicalo di azo a muitosmalentendidos, quer nos discursos que construimos acerca do nossoquotidiano viver, quer nos discursos que avanzamos para análise filosófica.Assim, cada interlocutor — transportando consigo experiencias, vivenciaspessoais e intransmissíveis — parece-se com um cruzamento sempre novo,com urna estrada sempre por refazer e por ‘ajustar’, onde os buracos e aslombas da comunicado às vezes se conhecem e se conseguem evitar, outrasvezes se esquecem, se ignoram e nos fazem saltar. Portanto, o filósofo deve ser capaz de adivinhar, desvelar, classificar o feitio do interlocutor que selhe apresenta, se pretende evitar que o discurso termine em mera aporia.